domingo, 29 de abril de 2012

Sobre o nosso vazio atravessou-se uma ponte



  

Caía insistente a chuva, misturada às lágrimas da menina, agora convicta de que seu time não é invencível.

Pranteava porque nas rádios, TVs e vizinhanças detratavam seu ídolo jovem, crente e calvo, com quem aparece feliz numa foto recente.

Atônita, lábios comprimidos, ouvia falar de desconhecidos: um tal Gilmar, um tal Tobias, um tal Dida.

Lastimou-se quando alguém afirmou que o lépido camisa 9 não é mais aquele. Não estranhou a referência a Baltazar, que dá nome ao gato preto da casa.

Mas se aborreceu com as referências a certo Geraldo Manteiga, que disseram ter anotado 90 gols pelo alvinegro.

De repente, ela e os outros se perceberam acompanhados por uma penumbra de culpa: onde estávamos nós, hoje, na hora da luta?

Estivesse o velho calabrês entre nós, lembraria o sábio chinês Lao-Tsé:

- Quando a obra dos melhores chefes fica concluída, o povo diz: fomos nós que a fizemos.

Lá no Pacaembu, faltaram tantos que a razão da derrota pode mesmo ser atribuída à formação vazada de nossas fileiras.

Se há um “time do povo”, é justamente a massa de pessoas que faz a diferença. Qual seria o júbilo se nos conformássemos em compor plateia rala e calada?

Pelo monitor brilhante e colorido, vimos envergonhados as bordas do estádio severamente desguarnecidas. Cadeiras vermelhas e laranjas mal ocupadas por gatos pingados.

É justamente nessa fronteira cinética de emoções que se alinham nossos melhores combatentes, aqueles dedicados furiosos que fazem tremer os adversários.

Houve lá, no 1976 distante, o exército de 75 mil que soprou para dentro a bola de Ruço. E, no ano seguinte, aquele de 86 mil que abriu caminhos cósmicos para sacralizar o tiro de Basílio.

Neste 22 de Abril, porém, faltávamos no território de batalha. Neste dia do Descobrimento, descobrimos que a falta que fazemos a nós mesmos.

No mirrado Pacaembu de pouco mais de 36 mil lugares, largamos vagos mais de 10 mil postos.

Qual o prejuízo do silêncio de 10 mil vozes num embate decisivo? Sentiu-se o visitante menos fora de casa?

Talvez, menos do que imaginamos. Talvez, mais. Sobre este vale fundo e vazio, estendeu-se perturbadoramente a ponte.

No torneio continental, perdemos 23.574 vozes em três jogos. Talvez não tenham sido necessárias, considerada a fragilidade dos oponentes.

Mas será que podemos prescindir, o tempo todo, de nosso diferencial competitivo?

Se a análise levar em consideração o interesse do business, vale a pena reservar a arena aos endinheirados, fazer caixa e cortar a navalha o olho do povo.

Se a ideia é honrar a missão do clube, nem tanto. Este é o time do povo, que por ele deve ser feito.

Se persiste o esquadrão de Bataglia, sua meta é, antes de tudo, gerar satisfação para sua massa de corações apaixonados.

No futebol, especialmente no nosso, o capital é meio; não é fim. O que se arrecada deve gerar instrumentos para atender às demandas do povo.

Mais fortes somos se nos multiplicamos, se ampliamos direitos e se formamos nossas brigadas em volume.

Quando faltamos, quando cabulamos, quando nos desfalcamos, estendem-se sobre nossos vazios as pontes do rival.
 
E sobre elas pisam pesadamente as legiões invasoras. Aí, o céu se desmancha. E as meninas choram.

Brigada Miguel Bataglia

Um comentário:

Anônimo disse...

acho uma boa torcida muito bem vinda sim. mas como disse no outro post, na minha opinião tem que equilibrar o preço a

abs