Caía insistente a chuva, misturada às lágrimas da menina,
agora convicta de que seu time não é invencível.
Pranteava porque nas rádios, TVs e vizinhanças detratavam
seu ídolo jovem, crente e calvo, com quem aparece feliz numa foto recente.
Atônita, lábios comprimidos, ouvia falar de desconhecidos:
um tal Gilmar, um tal Tobias, um tal Dida.
Lastimou-se quando alguém afirmou que o lépido camisa 9 não
é mais aquele. Não estranhou a referência a Baltazar, que dá nome ao gato preto
da casa.
Mas se aborreceu com as referências a certo Geraldo
Manteiga, que disseram ter anotado 90 gols pelo alvinegro.
De repente, ela e os outros se perceberam acompanhados por
uma penumbra de culpa: onde estávamos nós, hoje, na hora da luta?
Estivesse o velho calabrês entre nós, lembraria o sábio
chinês Lao-Tsé:
- Quando a obra dos melhores chefes fica concluída, o povo
diz: fomos nós que a fizemos.
Lá no Pacaembu, faltaram tantos que a razão da derrota pode
mesmo ser atribuída à formação vazada de nossas fileiras.
Se há um “time do povo”, é justamente a massa de pessoas que
faz a diferença. Qual seria o júbilo se nos conformássemos em compor plateia
rala e calada?
Pelo monitor brilhante e colorido, vimos envergonhados as
bordas do estádio severamente desguarnecidas. Cadeiras vermelhas e laranjas mal
ocupadas por gatos pingados.
É justamente nessa fronteira cinética de emoções que se
alinham nossos melhores combatentes, aqueles dedicados furiosos que fazem
tremer os adversários.
Houve lá, no 1976 distante, o exército de 75 mil que soprou
para dentro a bola de Ruço. E, no ano seguinte, aquele de 86 mil que abriu
caminhos cósmicos para sacralizar o tiro de Basílio.
Neste 22 de Abril, porém, faltávamos no território de
batalha. Neste dia do Descobrimento, descobrimos que a falta que fazemos a nós
mesmos.
No mirrado Pacaembu de pouco mais de 36 mil lugares,
largamos vagos mais de 10 mil postos.
Qual o prejuízo do silêncio de 10 mil vozes num embate
decisivo? Sentiu-se o visitante menos fora de casa?
Talvez, menos do que imaginamos. Talvez, mais. Sobre este
vale fundo e vazio, estendeu-se perturbadoramente a ponte.
No torneio continental, perdemos 23.574 vozes em três jogos.
Talvez não tenham sido necessárias, considerada a fragilidade dos oponentes.
Mas será que podemos prescindir, o tempo todo, de nosso
diferencial competitivo?
Se a análise levar em consideração o interesse do business,
vale a pena reservar a arena aos endinheirados, fazer caixa e cortar a navalha
o olho do povo.
Se a ideia é honrar a missão do clube, nem tanto. Este é o
time do povo, que por ele deve ser feito.
Se persiste o esquadrão de Bataglia, sua meta é, antes de
tudo, gerar satisfação para sua massa de corações apaixonados.
No futebol, especialmente no nosso, o capital é meio; não é
fim. O que se arrecada deve gerar instrumentos para atender às demandas do
povo.
Mais fortes somos se nos multiplicamos, se ampliamos
direitos e se formamos nossas brigadas em volume.
Quando faltamos, quando cabulamos, quando nos desfalcamos,
estendem-se sobre nossos vazios as pontes do rival.
E sobre elas pisam pesadamente as legiões
invasoras. Aí, o céu se desmancha. E as meninas choram.
Brigada Miguel Bataglia
Um comentário:
acho uma boa torcida muito bem vinda sim. mas como disse no outro post, na minha opinião tem que equilibrar o preço a
abs
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