Imagine você, indo a um show de seu artista preferido. Você escolhe o seu lugar e, de repente, chegam 8 policiais, daqueles brutamontes, e diz para você sair daquele lugar, sem motivos, sem justificativas...
Transportemos esta situação a um estádio de futebol, no setor dos mais caros do estádio: a Numerada. Imagine que você, torcedor, tenha escolhido seu assento bem no meio do campo, a melhor posição para assistir a peleja, e estes 8 trabalhadores da segurança publica dizem para você sair da sua confortável (??) cadeira, de uma forma simplesmente truculenta. Indignante não?
Mais uma vez, transportemos esta situação, ainda dentro do estádio, mas agora no setor mais popular (e democrático) de um estádio: As arquibancadas. Imaginou? Pois torcedor, infelizmente, esta situação não é
imaginação e aconteceu na arquibancada.
A arquibancada é dividida em dois setores: a arquibancada verde e a arquibancada amarela. Tudo isso é só na teoria, pois a arquibancada é um espaço bastante democrático (como já disse). O torcedor escolhe o lugar que quer ver o jogo, e este pode ser qualquer lugar, nas escadas, nos degraus e, inclusive, no alambrado. Se o torcedor quer ver o jogo no alambrado, qual o motivo de não poder? Vou ao Pacaembu desde 1997, e já se via torcedores por lá... Na verdade, acredito que na inauguração do Pacaembu já existia torcedor no alambrado. E não é privilégio dos Corinthianos. Quem não se lembra do capitão Alessandro indo tirar satisfação com os torcedores do Palmeiras, naquele ano de 2011...?
Viram? Coloquei o exemplo do show e da numerada por que a forma de agressão é a mesma. Foi ferido o direito do torcedor, que pagou ingresso, de ver o jogo no seu canto preferido (ou escolhido). Veja a
imagem abaixo:
Digo isso pois fui uma das vitimas da agressão. E afirmo: São sempre os mesmos policiais. Brutamontes de 2 metros, sem o mínimo preparo para lidar com torcedor, que olham o torcedor como inimigo, e que, em um jogo sem uma ocorrência, nesta situação, agiram de modo provocativo e incitativo. A violência foi gratuita. GRATUITA. Nem mesmo os abutres de sempre estavam sendo hostilizados com xingamentos.
Simplesmente nada de anormal aconteceu ali.
Os mesmos policiais, um ano atrás, já agiram de forma incitativa, como podemos ler
AQUI!! Afirmo: São os mesmos policiais. E que há muito não os via no estádio. A provocação é clara e gratuita. A proposito: Ontem a bandeira que fica na escada do banheiro também foi tirada de lá. Não vi quem as tirou, mas não duvido que tenham sido os mesmos despreparados fardados.
O papel do policial, no estádio, assim como no estado, é proteger o cidadão. Porém, como é histórico, e no estádio mais ainda, utilizam-se de ABUSO DE AUTORIDADE sem fim nem proposito. Repito: VIOLÊNCIA GRATUITA.
Imaginemos a cena: Se a provocação da PM surtisse o efeito desejado, e uma confusão acontecesse ali. Uma briga generalizada poderia acontecer e, novamente, os torcedores seriam marginalizados. Apenas para que você reflita um pouco quando for dizer que torcedor é tudo bandido e vandalo...
Por isso, este espaço é a favor da desmilitarizar o espaço interno do estádio. Talvez esta seja uma luta que possa ser iniciada já para ITAQUERA.
Vai Corinthians!
4 comentários:
A cada Corinthians x Flamengo, se comenta sobre “o confronto entre os dois clubes com as maiores torcidas do Brasil”, “uma disputa entre 60 milhões de pessoas”, “o clássico do povo”.
De fato, Corinthians e Flamengo possuem ambos torcidas gigantescas; segundo as pesquisas de opinião, são “as duas maiores do Brasil”. E as semelhanças ficam por aí mesmo, na dimensão das torcidas. Pois a natureza da relação dessas torcidas com seus respectivos clubes é muito diferente. Resultado de histórias radicalmente distintas.
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O Corinthians nasceu da gente humilde e sempre foi o Time do Povo (“O Corinthians vai ser o time do povo e o povo é quem vai fazer o time” – palavras de Miguel Bataglia, o primeiro presidente corinthiano). O Flamengo nasceu da elite, foi elitista, discriminou quem não era da elite, e depois se popularizou.
O Corinthians foi fundado por um grupo de operários e artesãos, na rua. debaixo da luz de um lampião, em 1910. Um ano depois, em 1911, O Flamengo, clube de remo, acolheu os dissidentes do Fluminense F.C. (quase o time titular inteiro), e se tornou também um clube de futebol. Clube de gente fina: do time bicampeão carioca de 1914-15, nove jogadores eram estudantes de medicina, um era estudante de direito e um não fazia nada (“filhinho de papai”).
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O Corinthians começou na várzea (que era onde os times formados por pessoas das classes sociais menos privilegiadas podiam jogar bola). Após alguns anos como “Galo da Várzea”, surgiu a oportunidade, em 1913, de disputar uma seletiva para participar do campeonato da LPF, devido à saída de equipes dissidentes que fundaram a APEA (as equipes da APEA queriam ser a elite da elite). O Corinthians ganhou a seletiva, o Time do Povo passou a jogar com os clubes da elite e exerceu papel fundamental na popularização do futebol em São Paulo. Mas houve, logo no início, uma traição: campeão paulista na LPF já em 1914, o Corinthians recebeu um “convite” para participar do campeonato da APEA de 1915. Quando o Corinthians pediu a desfiliação da LPF, veio a negativa da inscrição na APEA. E o Corinthians ficou “na cerca” em 1915… Até o final do ano, quando foi chamado para participar de um torneio beneficente contra os campeões da APEA e da LPF (torneio beneficente tem que dar renda; para dar renda, é preciso torcida; e quem tinha torcida era o Corinthians). O Corinthians bateu os dois campeões, e se tornou o Campeão dos Campeões. No ano seguinte, voltou para a LPF (após nova seletiva…) e conquistou seu segundo título paulista.
Uma história marcante da época do amadorismo do Flamengo não é nada edificante. Em 1923, o Vasco participou pela primeira vez da primeira divisão do campeonato carioca. Com um time formado majoritariamente por negros e mulatos, o Vasco ganhou de quase todas as demais equipes, majoritária ou exclusivamentemente formada por brancos. Na penúltima rodada, a chance de ser campeão, contra o Flamengo, nas Laranjeiras. A zona sul se uniu contra o Vasco. Criou-se um clima de guerra para a partida. A playboyzada pitbull do departamento de regatas do Flamengo levou seus remos embrulhados em jornal. Durante a partida, qualquer vascaíno que se manifestasse nas arquibancadas levava um golpe de remo na cabeça. O Flamengo, com seus onze jogadores brancos, ganhou por 3×2, e o Vasco saiu revoltado com um gol não validado pelo árbitro (o benemérito do Botafogo, Carlito Rocha), em lance em que a bola teria entrado. O carnaval que a vitória do Flamengo provocou na zona sul durou pouco, pois o Vasco acabou conquistando o título. Mas os clubes grandes da elite carioca não aceitaram o desaforo: exigiram que o Vasco se desfizesse de seus jogadores negros e mulatos se quisesse participar do campeonato do ano seguinte. Diante da recusa, Flamengo, Fluminense, Botafogo e América fundaram uma nova liga, para não ter que jogar contra o Vasco.
Nesse contexto, é importante destacar que, pouco tempo antes, em 1922, na conquista do campeonato sul-americano, pela primeira vez um jogador considerado negro havia atuado pela seleção brasileira: Tatu, do Corinthians (na verdade, houve Friedenreich, que jogou pela seleção antes de Tatu; mas, ao contrário do corinthiano, não era visto como negro, pois era mulato claro, filho de pai alemão, tinha olhos verdes, usava o cabelo alisado e era jogador do Paulistano).
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As conquistas da época do amadorismo tornaram o Flamengo popular, e o Corinthians ainda mais popular. Com o advento do profissionalismo, o Flamengo contratou os maiores jogadores negros do futebol carioca (Domingos da Guia, Leonidas, Fausto), intencionando se tornar o clube de maior torcida do Rio e do Brasil. Aqueles jogadores teriam um papel duplo nessa empreitada: conquistariam as vitórias, que por si propiciam mais seguidores; e atrairiam a simpatia do povão carioca, que se identificava naqueles ídolos. O Corinthians, curiosamente, enfrentou uma crise na transição para o profissionalismo: tricampeão paulista, sofreu um desmanche provocado pelas equipes italianas, que levaram os seus destaques (um deles Filó, tornou-se o primeiro brasileiro a conquistar uma copa do mundo, a de 1934, graças à dupla cidadania italiana obtida). Mas o Corinthians retomou o caminho das glórias, com um novo tricampeonato no final da década de 1930, no qual teve participação decisiva o artilheiro Teleco.
Com o advento da época de ouro do rádio (década de 1940), o futebol se tornou ainda mais popular. As vitórias dos clubes eram difundidas pelas emissoras de rádios. As mais influentes em escala nacional eram as emissoras cariocas (sediadas na então capital da República). Dentre os radialistas esportivos cariocas destacavam-se Ari Barroso e Jorge Cury, ambos rubro-negros fanáticos, que não tinham o menor pudor em, diante do microfone, pender para o seu clube do coração. O Corinthians não tinha tanta “sorte” assim: a mais importante rádio paulista, em termos de esporte, era a Panamericana (futura Jovem Pan), propriedade de Paulo Machado de Carvalho, são-paulino histórico e diretor do SPFC por décadas. Paulo Machado de Carvalho chegou a comandar um conglomerado de mídia que incluía a TV Record, a Rádio Record, a Rádio Excelsior, a Rádio São Paulo e a Rádio Panamericana (Jovem Pan). Quando se tem em conta que o mais importante jornal paulista, O Estado de São Paulo, sempre foi de propriedade da família Mesquita, a qual participou da fundação do SPFC, não fica difícil deduzir qual clube paulista é o tradicional “queridinho” da mídia local.
Mas a popularidade corinthiana é imanente, é essencial, e não depende de tratamento benevolente dispensado pelos “veículos formadores de opinião”. Tanto é assim que, em 1956, o diário Última Hora resolveu fazer uma enquete, no Rio de Janeiro e em São Paulo, para saber qual era “a maior torcida do Brasil”. O vencedor foi o Time do Povo, o Corinthians, com 737 mil votos. Em segundo lugar, ficou o Flamengo, com 538 mil votos.
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O martírio de vinte e dois anos sem conquistar um título paulista afetou a torcida corinthiana. Mas não como afetaria qualquer outra torcida do Brasil: cresceu o tamanho e o amor da Fiel por seu time. A história do Corinthians é repleta de glórias, mas é pontuada de grandes dificuldades e de sofrimento. Nada foi tão demorado e sofrido quanto a espera pelo fim da fila. Quando ocorreu a Libertação, o que se viu foi a maior e mais intensa comemoração de título de um clube brasileiro em todos os tempos. Mais que uma festa, foi uma catarse de milhões, uma mistura de carnaval com Juízo Final, um acontecimento irrepetível. A partir do qual o Corinthians era ainda maior do que já havia sido (e, antes da fila, o Corinthians já havia se tornado o maior de todos).
Coincidente com o jejum corinthiano foi o advento da televisão nos lares brasileiros. A primeira emissora a estabelecer uma rede nacional de transmissão foi a Rede Globo, sediada no Rio de Janeiro, que teve um crescimento imenso, desproporcional em relação às concorrentes, durante o regime militar. A Globo continuou e transcendeu o trabalho que as rádios faziam de difusão do futebol carioca, com atenção especial ao nome do Flamengo, tratado de modo constantemente ufanista e festivo.
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O resultado é o gigantesco contingente de seguidores que o Flamengo angariou. Mais do que torcedores, boa parte é de admiradores: pessoas que gostam e acompanham o Flamengo como a uma novela, que lhes oferece entretenimento, emoções e ídolos.
Muito diferente é a relação da Fiel com o Corinthians. Aqui trata-se de uma devoção, quase uma religião. O Corinthians, para grande parte de seus torcedores, é a coisa mais importante da vida. O corinthiano tem a sua família, o seu trabalho, a sua religião; alguns dão mais importância para isso, outros para aquilo; mas o que está sempre presente, o que condiciona a sua vida, é a paixão pelo Corinthians.
Quando se enfrentam Corinthians e Flamengo, não se trata de um confronto entre iguais, entre “irmãos”. Ocorre o confronto ente dois clubes que congregam duas imensas e díspares legiões de seguidores: os admiradores do Flamengo e os fanáticos torcedores do Corinthians. Os flamenguistas, adeptos do oba-oba, querendo mostrar a sua alegria; os corinthianos, apaixonados e sem vergonha de mostrar a sua devoção. O Flamengo, festivo, de raizes na elite, que conseguiu fazer frutificar um enorme contingente de admiradores. O Corinthians, razão do viver dos seus torcedores, Time do Povo desde o seu surgimento.
Corinthians, o time da Fiel, a maior e mais apaixonada de todas as torcidas.
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