domingo, 10 de março de 2013

Uma 4º-feira qualquer...


Era uma 4a feira. Dia de jogo do Corinthians no Pacaembú. Mas, depois de tudo o que havia ocorrido naquela semana, na verdade o clima era para não parecer que era dia de jogo. Pois aquele jogo não poderia ter torcida. Portanto, era para ser uma 4a feira no Pacaembú de futebol silencioso, onde se ouviria os passos dos guardas da corporação, a batida da bola na luva do goleiro e até mesmo o grito de gol do narrador esportivo lá do outro lado do campo.

Mas não foi isso que se viu nos arredores do Paulo Machado de Carvalho naquela quarta-feira. No lugar do silêncio, um barulho ensurdecedor. Daqueles que se podia ouvir lá da metade da avenida Pacaembú. Os gritos ecoados não eram os novos gritos da torcida, como o grito do bando de loucos ou qualquer melodia de uma música do Tim famosa... mesmo por que neste caso não foi “ a semana inteira” que estes torcedores estavam esperando. Alguns estavam esperando por décadas para ter novamente esta maravilhosa sensação. As musicas cantadas ali eram as marchinhas, o hino do Corinthians bradando um “Luctar, Luctar” e até mesmo aquela música que homenageava com brilhantismo Baltazar, cabecinha de ouro, que chegou a chorar quando ouviu a sua música.

Na Praça Charles Miller podíamos ver grupos de senhores, senhoras, jovens.. enfim...

Chega a hora do jogo, e na entrada da escrete Corinthiana, aquela massa incrível vai a loucura. Há tempos não se via um Pacaembú tão cheio, depois da colocação das cadeiras que existem hoje por ali. Uma festa que na verdade não se via a anos. Bandeiras tremulando, camisas agitando. Até uma faixa escrita TORCIDA CORINTHIANA se via por ali.

Ninguém entendeu nada quando, após a bola rolar, ouviu-se um palavrão cabeludo. Era Tia Dirce xingando o bandeira que, de certo, aprontava mais uma. Mas se via um sorriso feliz instantes depois quando saiu o gol do Corinthians marcado pro Guerreiro. Tia Dirce já abraçava dona Elisa da Fiel, que se juntava a Joca e outros numa felicidade imensa e intensa.
Um pouco mais a direita podíamos ver Seu Miguel, com o orgulho que não cabia no peito, na mesma roda com Joaquim Ambrósio, Antônio Pereira, Rafael Perrone, Anselmo Correa e Carlos Silva. Felizes, comentavam cada jogada com saudosismo dos tempos da várzea. Lá também estava a santíssima trindade, Claudio, Luizinho e Baltazar. Seu Idário, que também estava por ali, comentou com um torcedor com cara de vida, mas ao mesmo tempo exalando uma cara de felicidade, que ali daquela lateral ponta nenhum fazia graça, e que se não fosse pelo alambrado, muito jogador adversário bateria a cabeça nas lanchonetes do estádio. Luizinho ainda desmentia, com aquela cara marota, a história da “sentada” na bola.

Do outro lado do campo víamos Seu Manuel Nunes, tão concentrado no jogo, tão aflito a cada passe errado, que nem mesmo percebeu a pergunta inocente de um garoto que estava ao seu lado. – Seu Neco, este é o mesmo cinto que o Senhor tirou pro Juiz no campo? – Nada tirava a atenção dele do jogo.

No momento do segundo gol o Pacaembú caiu. Mais festa da torcida Corinthiana. Daquela especialíssima torcida Corinthiana.

Um dos mais empolgados por ali era Amâncio Mazzaropi, que era chamado de Maza por todos ali. Maza dizia que esperava de novo com este reencontro com seu clube de coração a anos e anos.

No fim do jogo dava para ver Sócrates tomando a sua sagrada cerveja e divagando com outros Corinthianos sobre tudo, política, futebol e até mesmo da homenagem que ele havia recebido no Parque São Jorge. Lembrava também, com Lidu, Eduardo, e até mesmo Seu Vicente, de como era gostoso tomar uma gelada no Bar da Torre. Baltazar se lembrava de como o rio fazia a curva por ali.

Com a quinta feira já dando as caras na cidade, todos saíram contentes por demais, pois, além da vitória Corinthiana em cima do Milionários por 2 a 0, puderam também matar a saudades do grito de gol do Corinthians novamente dentro do estádio.

E aquela noite, que tinha tudo para ser uma noite silenciosa, foi uma das mais lindas já vistas no Pacaembú. Porém esta noite não consta nos registros... as únicas testemunhas foram São Jorge, Deus e você Corinthiano de fé que acredita na força do pensamento e que nossos ancestrais nunca nos abandonam.

Esta é uma pequena homenagem da Brigada Miguel Bataglia a todos os Corinthianos (inseridos no texto ou não) que se foram, mas que deixaram para nós Corinthianos um legado de amor e lealdade.

Um comentário:

Maria Angélica disse...

Poxa! Ainda não consegui parar de chorar. Você conseguiu descrever com detalhes o que eu senti naquele jogo e até mencionei no meu blog,
Mas, a Fiel estava lá, em Espírito e em pensamento e se um vidente adentrasse ao Pacaembu, iria testemunhar que ele nunca esteve tão lotado. Sim, com certeza lá estavam o Doutor Sócrates, Cláudio, Luizinho, Teleco, Idário, Vicente Matheus, Dona Elisa, Flávio La Selva, Tia Dirce e milhares de corinthianos que já partiram para o mundo espiritual.
Você deve ser um médium clarividente, pois descreveu com exatidão o que eu apenas senti.
Foi uma festa linda com a presença massiva da FIEL CÉU na arquibancada.